Declaração Política
Deputada Paula Santos
07 Janeiro 2010
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Os cuidados de saúde para a grande maioria da população estão hoje mais inacessíveis, muito embora sejam um direito consagrado constitucionalmente, conquistado pelo povo português na Revolução de Abril.
O anterior Governo do PS procedeu a uma ofensiva sem precedentes contra o Serviço Nacional de Saúde assente numa política de desresponsabilização na garantia do acesso aos cuidados de saúde, de encerramento de diversos serviços, e na continuada carência de meios humanos. A degradação dos serviços públicos de saúde abre espaço para a proliferação de entidades privadas nesta área. O Governo PS prossegue o favorecimento dos grupos económicos e financeiros, a sua busca de lucro à custa da saúde das populações e do erário público, a sua predação sobre o SNS de que é exemplo o escândalo do financiamento de hospitais privados por fundos públicos a pretexto do tratamento de utentes da ADSE que poderiam ser atendidos pelo SNS com o acréscimo do investimento público que assim é desviado.
Todo o País é atingido por estas opções e o Distrito de Setúbal não é excepção. Os indicadores de saúde encontram-se muito abaixo das necessidades mínimas, nomeadamente o número de médicos, de enfermeiros e de camas por habitante; demonstrativo das insuficiências e do desinvestimento nos cuidados de saúde.
A carência de meios humanos atinge mais de uma centena de milhares de utentes actualmente sem médico de família, número que continua a aumentar e sem qualquer perspectiva para a sua resolução.
A reorganização da rede das unidades de saúde não melhorou os serviços de saúde prestados como foi amplamente propagandeado pelo Governo, antes pelo contrário, significou maiores constrangimentos às populações no acesso aos cuidados de saúde, com o encerramento de vários serviços públicos de saúde, agravado por um insuficiente serviço de transportes públicos.
Há ainda a acrescentar a necessidade de construção de mais unidades de saúde na região. O PCP todos os anos apresenta propostas neste sentido, em sede de PIDDAC, sendo consecutivamente rejeitadas. Alguns destes investimentos já tiveram compromissos assumidos pelo Governo, e até já constaram do PIDDAC, como por exemplo a construção do Centro de Saúde de Corroios, que entretanto caiu no esquecimento. Ou então o Centro de Saúde da Quinta do Conde, em Sesimbra, em que após anos de luta e de finalmente se ter iniciado a sua construção, a empresa faliu. O Governo disse que iria resolver a situação, mas até agora a obra está parada e não existe previsão para a sua continuação.
Ao nível das unidades hospitalares a realidade também é preocupante. No Hospital de Santiago do Cacém aguarda-se a instalação de todas as valências para a Maternidade. O Hospital Garcia de Orta está com ruptura de serviços, com elevados tempos de espera para consultas ou cirurgias. No serviço de urgência a situação é ainda mais dramática. Relembramos que o Hospital Garcia de Orta foi projectado para dar resposta a cerca de 150 mil habitantes e que actualmente abrange quase meio milhão de habitantes.
Muitas vezes afirma-se que as urgências são entupidas por doentes com pouca gravidade. A verdade é que, mesmo antes do encerramento de serviços públicos, principalmente nos concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra, já o serviço de urgência deste hospital não tinha capacidade de resposta; com o encerramento de serviços, a população, não tendo resposta noutras unidades de saúde de proximidade, recorre com maior frequência às urgências do Hospital. Esta semana foram noticiados os longos tempos de espera nas urgências do Hospital Garcia de Orta, referindo mesmo que o tempo de espera médio para o atendimento é entre 10 a 12h, chegando mesmo a atingir mais de 20h.
Estes acontecimentos confirmam a posição do PCP da necessidade de mais equipamentos de saúde, da reabertura dos serviços públicos de saúde encerrados e da urgente construção do Hospital no Seixal. Esta é a solução que garante o direito à saúde a toda a população do Distrito, associado à dotação dos médicos, enfermeiros e técnicos de saúde necessários.
Foi a luta das populações, das comissões de utentes de saúde e das autarquias dos Concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra que obrigou o Governo a decidir a construção do Hospital no Concelho do Seixal em 2006. Só 3 anos depois o Governo assina o acordo estratégico para o lançamento do Hospital no Seixal, que prevê a abertura do concurso público para o projecto até final do ano de 2009. Mais uma vez, o Governo defrauda as expectativas das populações, e não cumpre os prazos estabelecidos. No último debate quinzenal com o Primeiro-Ministro, o Secretário-geral do PCP colocou a questão, dado que este não referiu o Hospital do Seixal quando abordou os investimentos do Governo nesta área. Mas o Sr. Primeiro-Ministro nada disse sobre esta matéria.
Reafirmamos a necessidade da rápida construção do Hospital no Seixal, que descongestione o Hospital Garcia de Orta, que tenha capacidade de resposta de camas de internamento para doentes agudos e um serviço de urgência de 24h.
As populações e as comissões de utentes estão atentas e continuarão a intervir até existir Hospital no Seixal. O PCP solidariza-se com a sua luta e tomará as iniciativas que forem necessárias para que este Hospital seja uma realidade. É urgente que o Governo invista no Serviço Nacional de Saúde, com mais unidades de cuidados de saúde de proximidade, reabertura de serviços e com os meios humanos adequados, como o PCP defende, para que seja dada resposta ao conjunto das necessidades da população na protecção da saúde.
PCP leva problemas dos serviços de saúde à Assembleia da República
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